quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Sampa - um pouco mais de Lina Bo Bardi

Oi gente!!

O MASP é um dos cartões postais de Sampa e é uma das mais importantes instituições culturais brasileiras, fica na famosíssima Av. Paulista, se destacando pelo enorme vão de 70m flutuando entre barras vermelhas. Não só pela arquitetura vale a visita, mas pelo acervo permanente apresentado nos cavaletes de vidro. E, pra quem gosta, terminar o passeio tomando um café na Starbucks que fica bem na frente!

O Sesc Pompéia não fica próximo do MASP mas preferi falar dos dois juntos pra fechar o conjunto de obras da Lina Bo Bardi que visitei. A Lina já disse publicamente que seus projetos não foram feitos para serem bonitos, e sim para serem funcionais. É exatamente o que acontece com esse Sesc (não que eu ache feio), localizado numa velha fábrica de tambores de 1938, ela que transformou os galpões industriais em centros de cultura e conciliou o existente com novos volumes arquitetônicos brutalistas em concreto aparente. 

O roteiro da viagem é ESTE : o que está em azul é o que fizemos durante a viagem e em verde são as coisas que eu ainda quero conhecer! Se alguém tiver alguma dica de programa imperdível pra fazer, me deixa aqui nos comentários (;

Grande vão para o Parque Siqueira Campos

Museu de Arte de São Paulo



Seu nome completo é Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, foi fundado em 1947 graças aos esforços de Chateaubriand, criador da Diários e Emissoras Associados, e de Pietro Bardi, ativista de mídia e crítico de arte. A ideia inicial era colocar o museu no Rio de Janeiro, mas São Paulo estava no auge e parecia dar mais vantagens econômicas, já que a obra seria pública. 

O projeto inicial é no Edifício Guilherme Guinle e nele o programa já era diferenciado no que se dizia a respeito de museus na época: depósito de obras de arte. Nele tinha uma pinacoteca, sala de exposição didática, duas salas de exposições temporárias e auditório para 100 pessoas. Esse museu foi inaugurado em 1947 e ideia foi aceita, se tornando um ponto de encontro de artistas, estudantes e intelectuais, onde o MASP inaugurou o conceito de espaço museológico multidisciplinar, uma das primeiras instituições a atuar como centro cultural (muito antes do Centro Pompidou, em Paris). Junto com as atividades, o acervo também cresceu e mesmo encontrando soluções alternativas por alguns anos, a ideia de um novo projeto veio a tona. 

A arquiteta de ambos os projetos foi Lina Bo Bardi, e numa carta de 1967 ela comenta sobre a escolha do lugar do novo MASP: "Em 1957 foi demolido o velho Trianon (...) ficou um terrenozinho pelado em frente à "mata brasileira" do Parque Siqueira Campos e, passando numa daquelas tardes pela Av. Paulista pensei que aquele era o único lugar onde o Museu de Arte se São Paulo podia ser construído, único lugar digno, pela projeção popular, de ser considerado a "base" do primeiro museu de arte da América Latina (...)". A carta na íntegra pode ser lida aqui!



Instalações e cabos de aço aparentes

Ciente da exigência do doador do terreno de preservar a vista para o centro da cidade e para a Serra da Cantareira, Lina pensou que o edifício só poderia ser elevado do chão ou enterrado. Optou então, pelos dois: um corpo pairando no ar e outro escondido abaixo da terra, separados por um grande vazio de 74m de vão e 8m de altura. 

Na mesma carta que citei acima, Lina explica a sua concepção: O novo Trianon-Museu é constituído por um embasamento cuja cobertura é o grande belvedere. O "salão de baile", pedido da prefeitura, será substituído por um Salão Civico e dois auditórios que completariam esse embasamento (essa parte não foi construída, permanecendo apenas o "salão de baile"). Todo o corpo superior está suspenso sobre duas grandes vigas por tirantes de aço, aparentes na construção assim como todas as instalações, desde o ar condicionado até o acabamento do concreto. A praça deverá ser circundada com plantas e flores, pavimentada com seixos naturais e ainda estão previstos espelhos d´água com plantas. 

O projeto demorou 12 anos para ser finalizado, e foi inaugurado em 1968 e foi um evento histórico, onde até a rainha Elizabeth II veio especialmente prestigiar a curiosa obra.

Cabos de aço que suspendem e sustentam o prédio

O acervo permanente do MASP inclui obras de Van Gogh, Renoir, Degas, Valázquez, Goya e outros artistas tanto estrangeiros como brasileiros. Hoje é considerado o mais importante acervo do Hemisfério Sul, com cerca de 8 mil peças desde o século IV aC até os dias de hoje. A convite do francês Museu D'Orsay, o MASP integra, desde 2008, o "clube dos 19", que consagra os 19 museus mais representativos da arte européia, além de também ser tombado pelo IPHAN. 

Quando a arquiteta Lina Bo Bardi projetou o edifício, ela também pensou nos "cavaletes de cristal" que finalizariam a composição da mostra das artes de um jeito único. Estas peças tem uma base de concreto e uma chapa transparente de vidro temperado, permitem que tanto a parte frontal da obra seja vista, como também o fundo, o que é super curioso e diferente de qualquer outro museu. Remover a ideia de ordem cronológica de obras, onde algumas são mais importantes e mais visíveis que outras... Aqui estão todas juntas, vistas da mesma forma, produzindo reações de curiosidade e de investigação no visitante.

Estes cavaletes foram removidos do museu em 1996, sob a justificativa de "preservação das obras" pois os cavaletes não ofereciam suporte adequado aos quadros, visto que a movimentação da Av. Paulista fazia-os trepidar. O arquiteto Martin Corullon negou que as vibrações prejudiquem as obras, e provou com testes, conseguindo assim a ideia dos cavaletes ao conjunto e ainda fez um lobby para que fossem tombados juntamente com o museu, em 2003. Mesmo assim, as peças originais foram guardadas e somente em 2015 foram finalmente reintegradas ao conjunto!
Aqui um 3D de como funciona o cavalete (;

Cavaletes originais reintegrados e teto do museu


Base dos cavaletes de cristal e a parte posterior das obras aparentes

Outra visão museológica



Bloco inferior do MASP


Para visitar: Av. Paulista, 1578 - de terça a domingo das 10h às 18h e na quinta feira 10h às 20h.

Ingressos: R$25 (inteira) R$12 (meia para estudantes e idosos) e gratuito para menores de 10 anos. Nas terças feiras a entrada é gratuita o dia todo!
 
Fotos históricas: Rainha Elizabeth II na inauguração do MASP e a arquiteta Lina Bo Bardi na construção do museu com seu cavalete único

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SESC Pompéia


Construída em 1938 pela indústria de tambores alemã, Mauser & Cia Ltda, usando a arquitetura típica inglesa dos anos 20, passou pela empresa brasileira Gelomatic, e por fim, o complexo foi comprado pelo Sesc em 1973 e dado o desafio a Lina Bo Bardi, que inaugurou o Sesc Fábrica Pompeia em 1982, que não é a versão final que conhecemos hoje.

Lina descobriu que a velha fábrica tinha sido moldada por um dos pioneiros do concreto armado, François Hennebique, e decidiu desnudar todo o edifício, deixando a mostra não somente a estrutura em concreto, como a vedação em alvenaria, o telhado original e as tubulações em ferro, posteriormente pintadas de vermelho. Dessa forma, a identidade industrial foi restaurada e mantida, além de outros elementos da mesma linguagem que foram incorporados, como as emblemáticas luminárias. 

A ideia do projeto de ser um lugar popular, veio da própria população local, que já utilizava a fábrica desativada para prática de esportes de maneira improvisada. Lina viu isso ao visitar o terreno e decidiu manter, aliás, mais do que isso, amplificar esse caráter. Os galpões então foram revitalizados e integrados por espaços livres e amplos como catalisadores de atividades diversas, onde todo mundo está sempre junto, mesmo que tenha chegado sozinho, uma forma de fomentar a convivência entre os usuários. Este complexo, agora Centro de Lazer Sesc Pompeia, foi inaugurado em 1986.






No interior dos galpões, a ideia era continuar com o "urbano", então o que se vê são praças com bancos, até um pequeno rio (chamado de São Francisco por Lina), banhados de luz natural graças a cobertura de telhas de vidros.
A intervenção vertical, de concreto aparente com rasgos irregulares (feitos com isopor embutido durante a concretagem) é de formato simples mas eficiente e poético, pois ocupou o espaço aéreo com passarelas por não poder utilizar o chão, com um córrego existente e preservado. 

No parte horizontal existem lanchonetes, atelier de cerâmica, pintura, marcenaria, gravura, tipografia, laboratório fotográfico, estudio musical, sala de danças, teatros, restaurante, espaços de estar, espetáculos, mostras expositivas, biblioteca, videoteca e espaço para exposições temporárias. Já na parte vertical, são 15 pavimentos duplos de quadras esportivas, piscina, ginásios, salas de ginástica, lutas e danças. Eu não tenho tantas fotos do interior, porque minha visita foi muito rápida, mas NESSE SITE tem muita coisa legal sobre os espaços internos!


Estes elementos são fechados por elementos vazados para muito ar entrar nas salas e quadras e permitir que os usuários não precisem utilizar o ar condicionado, odiado por Lina.





O projeto é gentil e combina com a sensibilidade de Lina nos seus detalhes, seja com a canaleta de água pluvial na rua interna feita de materiais e técnicas simples, o espaço livre nos galpões com catalisadores de atividades e vitalidade do lugar, onde todo mundo esta sempre junto, mesmo que sozinho, no respeito em não mexer no córrego existente, que fez nascer um deck de ligação entre os edifícios existentes e novos, até no fato de ter pensado nos usuários ao conceber os espaços, coisa que tem se perdido na arquitetura atual, infelizmente.





Para visitar: Rua Clélia, 93, Pompeia

Horários: terça a sábado das 9h-22h, domingos e feriados das 9h-20h. A programação dá pra conferir no site oficial!

Lina

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 PS: Minhas fotos são tiradas de uma Nikon P510 e algumas com o Moto X câmera de 10Mp, e a grande maioria não possui filtro nenhum. Sou fã de fotografia e gosto de ver os resultados como eles saem da máquina, aproveitando o máximo que ela pode me oferecer! 

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